O que você acharia de ir a uma loja de acessórios, pegar produtos que usará por um certo período e depois devolver, pagando um valor menor do que pagaria para comprar todas as peças? Essa é a proposta da “Ciranda” criada pela marca Da Tribu, que estreou em Belém uma forma de serviço baseado na chamada “economia compartilhada”.
Mas esse é apenas um dos pilares desse novo jeito de consumir e gerar movimentação econômica. Já bem popular nos Estados Unidos, este tipo de economia vem ganhando espaço no Brasil, contemplando três possíveis tipos de sistemas. No caso do Da Tribu Ciranda, as clientes que são fãs dos acessórios da loja poderão experimentar o que é conhecido como “mercado de redistribuição”.
É quando um item usado passa de um local onde ele não é mais necessário – aquela sua gaveta abarrotada de colares e brincos – para onde ele ganha nova importância, baseado no princípio do “reduza, re-use, recicle, repare e redistribua”.
“No compartilhamento, o que faz a diferença é a experiência”, afirma Tainah Fagundes, uma das sócias da loja. “Por passar apenas um determinado período com as peças, as pessoas terão um incentivo para compor novos looks, dentro de um novo estilo de vida, com mais criatividade e sustentabilidade”, defende.
Por esses princípios, cada acessório viverá um ciclo que foge ao desperdício. “Os nossos acessórios são todos feitos de refugo, materiais reciclados. Vão passar por outras pessoas e depois vão para o Troca de Afeto. Deu defeito, ficou velhinho? A gente recupera. Nós também incentivamos a troca entre as clientes que decidiram comprar peças. Com a gente, o produto não vai acabar no lixo”, completa Tainah.
EXPERIÊNCIAS DIVIDIDAS
Outro sistema da economia criativa é o de “produtos e serviços”, que ensina a pagar pelo benefício do produto e não pelo produto em si. Um exemplo simples é que, se aquilo que precisamos é um buraco na parede e não uma furadeira, por que ter uma ferramenta parada em casa durante meses ou mais de ano até precisar dela de novo?
Assim, as amigas, e agora sócias, Aryanne Almeida, Marina Chiari e Tereza Maciel, abriram as portas de casa para dar espaço a quem precisava apenas de um lugar para elaborar um projeto, trocar uma ideia, dar uma aula. “A Casa Oiam abriga diversos espaços. Boa parte das pessoas que passaram a frequentar é gente que queria um lugar para trabalhar onde pudesse tomar um café”, conta Tereza.
Em outros casos, o lugar já recebeu gente que precisava de um espaço para dar aula de meditação, yoga, ou de um estúdio para fazer um ensaio fotográfico – neste caso, o das fotógrafas Aryanne e Tereza, que quando não é usado por elas, também fica à disposição dos clientes da Casa Oiam.
“A gente tem ainda um espaço de passagem que é como a sala de casa, onde a gente ainda recebe uma arara com roupas do Bazar das Grlsss e um móvel com vários livros, que chamamos de ‘Lojinha do Desapego’. As pessoas que circulam pela casa colocam coisas como caderninho, lápis, livros e a gente vende baratinho, a R$ 2 ou R$ 5. Assim a gente vai encontrando caminhos dentro de um mesmo espaço, compartilha, encontra pessoas, troca ideias e projetos”, diz Tereza.
E dentro da própria Casa Oiam, um outro sistema de economia compartilhada deve ser implantado ainda este ano, o de “lifestyles colaborativos”, que baseia-se no compartilhamento de recursos, tais como dinheiro, habilidades e tempo. Isso porque passará a ofertar cursos com três modalidades de inscrição: “pague quanto puder” (alguém que pode pagar R$ 500 por um curso acaba permitindo a Casa dar aulas a quem pode pagar apenas R$50); “fraterna”, em que você paga para você e um amigo; e o de “valor exato”.
“Assim a gente atende todo mundo, é mais justo, e aquele que pode olhar por si e pelo outro tem esta oportunidade. Em tempos de crise, é preciso mais ter coragem para fazer acontecer, e pensar o tipo de negócio que a gente quer ter”, diz Tereza.
De modo geral, a economia compartilhada permite que as pessoas mantenham o mesmo estilo de vida, sem precisar adquirir mais, o que impacta positivamente não só no bolso, mas na sustentabilidade do planeta. Ela está também mudando nossas relações pessoais. A reputação volta a ter uma importância – afinal, a loja espera que você devolva o colar, certo? Os nossos valores mudam – mais importante é ter posse ou ter o que se precisa? E durante esse processo, conhecer pessoas torna a experiência ainda melhor, como na sala de estar da Casa Oiam.
(Lais Azevedo/Diário do Pará)